quarta-feira, agosto 29, 2007

THEOTOCOS E O CANTO DO MAGNIFICAT





Homilia do Papa João Paulo II na Festa da Assunção de Nossa Senhora .


"A minha alma engrandece o Senhor" (Lc 1, 46)A Igreja peregrina na história une-se hoje ao cântico de exultação da Bem-aventurada Virgem Maria; exprime a sua alegria e louva a Deus porque a Mãe do Senhor entra triunfante na glória do céu. No mistério da sua Assunção, aparece o significado completo e definitivo das palavras que ela mesma pronunciou em Ain-Karin, ao responder à saudação de Isabel: "Porque me fez grandes coisas o Onipotente" (Lc 1, 49). Graças à vitória pascal de Cristo sobre a morte, a Virgem de Nazaré, unida profundamente ao mistério do Filho de Deus, compartilhou de modo singular os seus efeitos salvíficos. Correspondeu plenamente com o seu "Sim" à vontade divina, participou intimamente na missão de Cristo e foi a primeira, depois d'Ele, a entrar na glória, em corpo e alma, na integridade do seu ser humano.O "Sim" de Maria é alegria para quantos estavam nas trevas e na sombra da morte. Com efeito, através d'Ela veio ao mundo o Senhor da vida. Os crentes exultam e veneram-n'A como Mãe dos filhos remidos por Cristo. Em particular neste dia, contemplam-n'A como "sinal de consolação e de segura esperança" para todo o homem e cada povo a caminho rumo à Pátria eterna.Caríssimos Irmãos e Irmãs, voltemos o nosso olhar para a Virgem que a Liturgia nos faz invocar como Aquela que rompe os vínculos dos oprimidos, restitui a luz aos cegos, afasta de nós todos os males e nos obtém todo o bem."Magnificat anima mea Dominum" A Comunidade eclesial renova na solenidade de hoje o cântico de agradecimento de Maria: o faz como Povo de Deus e pede a cada crente que se una ao coro de louvor ao Senhor. A isto, já desde os primeiros séculos, exortava Santo Ambrósio: "Seja em cada um a alma de Maria a magnificar o Senhor, seja em cada um o espírito de Maria a exultar em Deus" (S. Ambrósio, Exp. Ev. Luc., II, 26). As palavras do Magnificat são como que o testamento espiritual da Virgem Mãe. Com razão, portanto, elas constituem a herança de quantos, ao reconhecerem-se seus filhos, decidem acolhê-la na própria casa, como fez o apóstolo João, que a recebeu como Mãe diretamente de Jesus, aos pés da cruz (cf. Jo 19, 27). "Signum magnum paruit in caelo" (Ap 12, 1). A página do Apocalipse, que há pouco foi proclamada, ao apresentar o "sinal grandioso" da "mulher vestida de sol" (Ap 12, 1), afirma que ela "estava grávida, com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz" (Ap 12, 2). Também Maria, como escutamos no Evangelho, quando vai ajudar a prima Isabel leva no seu seio o Salvador, concebido por obra do Espírito Santo.Ambas as figuras de Maria, aquela histórica descrita no Evangelho e a velada no Livro do Apocalipse, simbolizam a Igreja. O fato de a condição de gravidez, como depois o parto, as insídias do dragão e o arrebatamento do recém-nascido "para junto de Deus e do Seu trono" (Ap 12, 4-5) pertencerem também à Igreja "celeste", contemplada em visão pelo apóstolo João, é bastante eloqüente e, na solenidade de hoje, é motivo de profunda reflexão.Assim como Cristo, que ressuscitou e subiu ao céu, traz para sempre em Si, no seu corpo glorioso e no seu coração misericordioso, as feridas da morte redentora, assim também a sua Mãe tem na eternidade "as dores de parto e as ânsias de dar à luz" (Ap 12, 2). E assim como o Filho, mediante a sua morte, não cessa de reabilitar todos os que por Deus são gerados como filhos adotivos, de igual modo a nova Eva continua, de geração em geração, a dar à luz o homem novo, "criado segundo Deus, na justiça e na santidade verdadeiras" (Ef 4, 24). Trata-se da maternidade escatológica da Igreja, presente e operante na Virgem.No presente momento histórico esta dimensão do mistério de Maria parece mais do que nunca significativa. Nossa Senhora, elevada entre os Santos à glória de Deus, é sinal seguro de esperança para a Igreja e para a humanidade inteira. A glória da Mãe é motivo de alegria imensa para todos os seus filhos, uma alegria que conhece as amplas ressonâncias do sentimento, típicas da piedade popular, ainda que a elas não se reduza. É uma alegria, por assim dizer, teologal, firmemente fundada no mistério pascal. Neste sentido, a Virgem é "causa nostrae laetitiae – causa da nossa alegria".Elevada ao céu, Maria indica a via de Deus, a estrada do Céu, o caminho da Vida. Mostra-a aos seus filhos batizados em Cristo e a todos os homens de boa vontade. Abre-a sobretudo aos pequeninos e aos pobres, prediletos da misericórdia divina. Aos indivíduos e às nações, a Rainha do mundo manifesta o poder de amor de Deus, cujos desígnios dispersam os dos soberbos, derrubam os poderosos e exultam os humildes, cumulando de bens os famintos e despedindo os ricos com as mãos vazias (cf. Lc 1, 51-53). Ao celebrar a sua Assunção ao Céu em corpo e alma, oremos a Maria para que ajude os homens e as mulheres do nosso tempo a viverem com fé e esperança neste mundo, procurando o Reino de Deus em todas as coisas; oxalá ela ajude os crentes a abrirem-se à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito Criador e Renovador, capaz de transformar os corações; ilumine as mentes acerca do destino que nos espera, da dignidade de cada pessoa e da nobreza do corpo humano.Maria, elevada ao Céu, mostra-te a todos como Mãe de esperança! Mostra-te a todos como Rainha da Civilização do amor!